Caxias quer data para celebrar o rock
Projeto está sendo desenvolvido para institucionalizar o Dia Municipal do Rock, com ações em favor do gênero
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Foto: Fredy Varela
Ana Paula Seerig
ana.seerig@folhadecaxias.com.br
Especial para a Folha de Caxias
Em 1985, o músico Bob Geldorf realizou o Live Aid, evento que reuniu nomes como The Who, David Bowie, Madonna, Paul McCartney, Queen e Scorpions, entre outros. Dois shows foram realizados simultaneamente, um na capital inglesa, Londres, e outro na Filadélfia, nos Estados Unidos. A intenção era pôr fim à fome na Etiópia, mas, além de conseguir chamar atenção para o país africano, o Live Aid se tornou um marco no cenário musical, e fez com que o 13 de julho, dia em que foi realizado o evento, fosse reconhecido como Dia Mundial do Rock.
Depois de 27 anos, um grupo de caxienses busca a criação do Dia Municipal do Rock. A ideia inicial partiu de Leandro Barbosa, que mora em Salvador, na Bahia, e veio passar alguns dias em Caxias do Sul para visitar familiares. Na capital baiana, Barbosa faz parte do Clube do Rock, existente há 21 anos.
“O clube realiza todo ano, desde 1994, no período de carnaval, o Palco do Rock. Oito bandas se apresentam por dia, totalizando 32 grupos por edição. Recebemos sempre 400, 500 inscrições de bandas que querem participar do evento”, explica Barbosa. “Uma das nossas expectativas com o dia caxiense do rock é fazer a primeira seletiva para o Palco do Rock fora de Salvador.”
Nove anos após a morte de Raul Seixas, em 1989, O Clube do Rock oficializou o dia do nascimento do músico, 28 de junho, como o Dia Municipal do Rock em Salvador. A data é comemorada com diferentes projetos, como exposições e debates sobre o gênero nas escolas. Outras cidades já possuem a data em seu calendário, como Campinas (SP). Caxias do Sul pode ser a primeira cidade gaúcha a registrar a comemoração.
“O Rio Grande do Sul tem um cenário musical muito forte, é importante que tenha um dia direcionado ao rock para dar maior espaço às bandas. Caxias tem tudo para, mais adiante, ser a Capital do Rock Gaúcho”, garante Barbosa.
Segundo ele, o projeto atual do Clube do Rock é estabelecer o Dia Nacional do Rock, que já está entre os projetos a serem aprovados pelo Senado, mas antes é necessário adquirir força conseguindo os dias municipais e estaduais.
A comissão caxiense que está por trás do projeto tem cerca de 40 pessoas, e se reúne semanalmente para trocar informações e atualizar dados relevantes para que o Dia Municipal do Rock seja estabelecido. O advogado Marcelo Pedroso, que faz parte da comissão e é um dos donos do Vagão Classic, diz que a intenção é fortalecer a cena musical da cidade e eliminar o preconceito existente com relação às pessoas que trabalham com o rock ou que o apreciam.
“Estamos em fase de levantamento de dados para descobrir os números exatos do mercado do rock na cidade, lojas, bandas e bares, para então marcar uma reunião com o secretário Municipal da Cultura e pedir apoio. Com a indicação dele, haverá mais chance de a Câmara de Vereadores aprovar o projeto”, explica Pedroso.
Além de um dia dedicado ao rock, o grupo também tem a intenção de criar uma associação sem fins lucrativos, que seja responsável por realizar eventos que abram espaço para o gênero.
“Queremos formar uma parceria com o Clube do Rock para fazer um intercâmbio de bandas, por exemplo”, diz Pedroso.
Entre as possíveis datas para se comemorar o Dia Municipal do Rock estão a data de realização do Cio do Rock (29 de outubro de 1982), a data de falecimento do baterista Mario Pastor (10 de agosto de 2010) e a data de criação da primeira banda da cidade, dado de difícil levantamento. Lucas Trindade, também da comissão, destaca a importância do projeto.
“Os eventos culturais da cidade estão fracos, e nosso objetivo é abrir espaço para o rock. A partir dessa sexta estaremos com um abaixo-assinado pela cidade. Não temos prazo para encerrá-lo, mas a expectativa é que consigamos um bom número de assinaturas em pouco tempo. Ele irá para escolas e lojas, por exemplo, além dos bares que apoiam o projeto”, esclarece.
Abaixo-assinado
Nesta noite (sexta-feira, 13), o abaixo-assinado em favor do Dia Municipal do Rock passará pelos seguintes bares:
Aristos London House (Rua Marquês do Herval, esquina com a av. Júlio de Castilhos, 1.677)
Boteco 13 (Rua Augusto Pestana, s/nº - Estação Férrea)
Buku’s Anexo (Rua Osmar Meletti, 275)
Havana Café (rua Dr. Augusto Pestana, 145 – Estação Férrea)
La Barra (Rua Coronel Flores, 810 – Estação Férrea)
Level Cult (Rua Coronel Flores, 789 – Estação Férrea)
Mississipi Delta Blues Bar (Rua Augusto Pestana esquina com rua Coronel Flores – Estação Férrea)
Vagão Classic (Av. Júlio de Castilhos, 1.343)
O que eles dizem:
Alguns nomes importantes do cenário do rock caxiense deram sua opinião sobre o projeto do Dia Municipal do Rock de Caxias do Sul:
“Qualquer tentativa de disseminar a cultura é válida, seja o dia do rock, o dia do choro ou o dia do tango. Não quero que seja uma coisa que separe, mas que agregue. Fico muito feliz que tenha o dia do rock, mas espero que seja um incentivo pra que outros estilos busquem seu espaço também.”
(Marcos De Ross, ex-integrante das bandas Gargathuae, De Ross e Akashic)
“Achei fantástica a iniciativa. É um pontapé inicial. O rock tem uma particularidade que, mesmo que surja o axé, o sertanejo, o rock não morre nunca. E aqui em Caxias tem muita gente que vive do rock.”
(Rafa Gubert, ex-integrante das bandas Infrablue, Capitão Ferro e Akashic, atual Blindsnake e Hardrockers)
“É uma ideia maravilhosa para abrir espaço para a cultura. Não sei por que não foi feito antes. A Serra gaúcha é roqueira, Caxias do Sul é roqueira. Mas eu acho importante ressaltar que, quando realizarem festivais, paguem cachês para as bandas, não peçam pra elas tocarem de graça. Não ajuda de custo, cachê mesmo.”
(Rafa Schuler, ex-integrante das bandas Bandida, Lucille e Rafa Schuler e Os Mostardas, atual Estado das Coisas e Rafa Schuler Trio)
“Qualquer projeto que venha agregar valores, que faça as pessoas pensarem no rock’n’roll é válido. Tende a dar certo se as pessoas que estão organizando realmente organizarem festivais e abrirem espaço para o rock na cidade.”
(Fer Costa, ex-integrante das bandas Gargathuae, Bandida e Lucille)
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