31/05/2012
Partidos enfrentam dificudades para cumprir a cota de gênero e indicar, no mínimo, 30% de representantes do sexo feminino
Foto: Gabriel Lain
JULIANA BEVILAQUA
juliana.bevilaqua@folhadecaxias.com.br
“É normal a dificuldade em ter mulheres. Acredito que é pela história. O homem era quem participava. E tem mulheres que não querem mesmo participar porque têm as coisas da casa, que ela acaba absorvendo”, acredita Edson Mano, presidente do PR e secretário municipal de Recursos Humanos e Logística. “A campanha é desgastante, são quatros meses de dedicação”, completa o presidente do PTdoB, Marcelo Buffon.
“Lugar de mulher é também na política”
Números*
PT: Estimativa de sete a nove candidatas
juliana.bevilaqua@folhadecaxias.com.br
Previstos na Constituição Federal, os princípios de pluralismo
político e igualdade estão presentes nas eleições desde 1997, quando as
cotas de gênero se tornaram lei. São elas que garantem a participação de
homens e mulheres na disputa eleitoral. No entanto, grande parte das
siglas tem dificuldade para compor as nominatas de candidatos ao
Legislativo respeitando as cotas mínimas de 30% e máxima de 70% para
cada gênero.
Com duas representantes na Câmara de Vereadores, Ana Corso e Denise
Pessôa, o PT encontra obstáculos para lançar, no pleito deste ano, o
mínimo estipulado pela legislação. A previsão, conforme o presidente do
diretório municipal, Alfredo Tatto, é de sete a nove candidatas. “As
mulheres não se colocam à disposição, talvez por medo de não dar conta.
Teríamos mulheres com muito mais potencial de concorrer do que alguns
homens. Mas em função da casa, do trabalho, não vão”, lamenta o
petista.
A dupla jornada, que se transformaria em tripla no caso de uma
candidatura, é apontada também pelo presidente municipal do PCdoB,
Sílvio Frasson, como impeditivo para algumas mulheres. Segundo ele, há
muitas militantes comunistas, no entanto, poucas dispostas a encarar o
desafio. O número de candidatas da sigla em Caxias deve ficar entre seis
e sete.
“É normal a dificuldade em ter mulheres. Acredito que é pela história. O homem era quem participava. E tem mulheres que não querem mesmo participar porque têm as coisas da casa, que ela acaba absorvendo”, acredita Edson Mano, presidente do PR e secretário municipal de Recursos Humanos e Logística. “A campanha é desgastante, são quatros meses de dedicação”, completa o presidente do PTdoB, Marcelo Buffon.
Em alguns casos, a falta de apoio da família também pesa. Mesmo
disposta a concorrer, a mulher abre mão por causa do marido e dos
filhos. Presidente do PSC, o pastor Anivaldo Zancanaro conta que
enfrentou dificuldades para compor a chapa pura com 24 homens e 11
mulheres.
“Tem marido ciumento. A política exige muito, são muitos compromissos
e, às vezes, eles não querem ficar longe das mulheres. Às vezes, elas
até têm desejo de participar, mas acabam desistindo em função disso”,
observa Zancanaro.
Fugindo à regra - Enquanto alguns trabalham no limite mínimo, outros
partidos respiram aliviados. O PDT, por exemplo, já tem 12
pré-candidatas. Em 2008, o partido lançou apenas uma.
“A gente faz um trabalho há bastante tempo, temos o departamento feminino bem estruturado”, justifica o presidente do PDT, Edson Néspolo, também chefe de Gabinete da prefeitura e secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade.
“A gente faz um trabalho há bastante tempo, temos o departamento feminino bem estruturado”, justifica o presidente do PDT, Edson Néspolo, também chefe de Gabinete da prefeitura e secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade.
Dos 15 pré-candidatos do PRB, oito são mulheres. No PTB serão 11, e no PSB, oito. No PP, a expectativa é de 11 candidatas.
“Acho que tem melhorado nos últimos anos, tivemos Yeda Crusius como governadora, agora a presidente Dilma, a senadora Ana Amélia (Lemos, PP) e a deputada Manuela (D’Ávila, PCdoB)”, cita o presidente do Progressista municipal, Guila Sebben.
“Acho que tem melhorado nos últimos anos, tivemos Yeda Crusius como governadora, agora a presidente Dilma, a senadora Ana Amélia (Lemos, PP) e a deputada Manuela (D’Ávila, PCdoB)”, cita o presidente do Progressista municipal, Guila Sebben.
Mas exceção mesmo é o DEM, com 16 pré-candidatas. A explicação,
segundo o presidente da sigla, Odir Ferronatto, é o fato de o partido
não ter nenhum grande figurão, o que, supostamente, ampliaria a
possibilidade de vitória:
“Elas entraram no DEM porque enxergam no partido a chance de vencer. Nos outros partidos, todos os nomes de homens são fortes e é mais difícil conquistar espaço”.
“Elas entraram no DEM porque enxergam no partido a chance de vencer. Nos outros partidos, todos os nomes de homens são fortes e é mais difícil conquistar espaço”.
O PMDB, com a presidente da Câmara, Geni Peteffi, como representante,
ainda não tem o total de pré-candidatas. “Vamos ter várias mulheres, mas
não sei quantas. Cada dia surge alguém colocando o nome à disposição.
Historicamente, o PMDB sempre cumpriu a cota. O PMDB Mulher tem muitos
destaques”, ressalta o coordenador regional da sigla, Antonio Feldmann.
O não cumprimento dos percentuais de 30% e 70% previstos pela
legislação gera, automaticamente, a devolução do Demonstrativo de
Regularidade de Atos Partidários (DRAP), conforme resolução do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Para a cientista política Cibele Cheron, a dificuldade encontrada por
alguns partidos para cumprir a cota pode residir na falta de tradição de
participação feminina, o que resulta, consequentemente, no baixo número
de mulheres nas instâncias de poder. Criadas para o espaço privado, ou
seja, doméstico, elas acabam deixando de se expor.
“Trazê-las para o (espaço) público é um desafio, para que elas entendam que lugar de mulher é também na política e não só atrás do fogão”, opina.
“Trazê-las para o (espaço) público é um desafio, para que elas entendam que lugar de mulher é também na política e não só atrás do fogão”, opina.
Cibele, também pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre
Mulher e Gênero da Ufrgs, alerta para as candidaturas-laranja. Segundo
ela, para garantir a cota, muitos partidos lançam mulheres sem ligação
alguma com a política, o que não representa avanço na participação
feminina.
A especialista também provoca as mulheres que, apesar da militância
política e social, preferem não estar na linha de frente. A timidez,
desculpa de algumas, pode ser resultado da formação.
“Sou tímida ou sou educada para ser tímida? Não são características construídas culturalmente?”, questiona Cibele.
“Sou tímida ou sou educada para ser tímida? Não são características construídas culturalmente?”, questiona Cibele.
Números*
PT: Estimativa de sete a nove candidatas
PDT: Tem 12 pré-candidatas
PMDB: Não há, ainda, estimativa de candidaturas femininas
PCdoB: Tem cerca de sete pré-candidatas
DEM: Tem 16 pré-candidatas
PSDB: Tem cinco pré-candidatas
PSB: Tem oito pré-candidatas
PP: Perspectiva de 11 pré-candidatas
PTB: Tem 11 pré-candidatas
PR: Não há, ainda, estimativa de candidaturas femininas
PSC: Tem 11 pré-candidatas
PV: Não terá candidatos a vereador
PPS: Tem diversas pré-candidatas, mas prefere não divulgar antes de definir a coligação na proporcional
PRB: Tem oito pré-candidatas
PTdoB: Não há, ainda, estimativa de candidaturas femininas
PHS: Tem duas pré-candidatas
PRTB: Não há previsão de candidaturas femininas
PRP: Tem uma pré-candidata
* PSOL, PMN, PTC e PSL não foram localizados pela reportagem.
* PSOL, PMN, PTC e PSL não foram localizados pela reportagem.
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